Criação de leitos não acompanha volume de internações

Infectologista prevê que, na próxima semana, Capital pode não ter vagas em hospitais

Criação de leitos não acompanha volume de internações

Campo Grande se tornou o epicentro da Covid-19 em Mato Grosso do Sul neste mês. A Capital aumentou em 145% o número de casos e passou de 8 mortes para 66 mortes.

Crescimento também registrado no número de internações: até a noite de ontem, a taxa de ocupação em unidades de terapia intensiva (UTIs) chegou a 83%. Com isso, especialista avalia que mesmo com a abertura de leitos, previstas para os próximos dias, isso não será suficiente em função do aumento de casos.

"Eles [administração municipal e estadual] estão abrindo leitos, mas a velocidade de casos [novos] é muito maior. Então, nesta semana ou na próxima, esses leitos vão ser preenchidos muito rapidamente. Estamos com um aumento de casos muito importante, e esta semana ou na outra vai faltar leitos para quem precisar", avalia o médico infectologista Julio Croda, que é pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Ontem, a prefeitura e o governo do Estado conseguiram contratualizar mais cinco leitos de UTI no Hospital Adventista do Pênfigo, além de 10 vagas clínicas. A previsão é que, nesta manhã, abram mais 10 leitos na Santa Casa de Campo Grande. Na semana passada, houve a abertura de 20 leitos no Hospital do Câncer Alfredo Abrão.

Entretanto, todas essas vagas são para pacientes que não estão com Covid-19, e a referência para tratamento da doença continua sendo o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, que ontem chegou a 97,7% de sua capacidade em relação aos leitos críticos (UTI e semi-intensivo).

Das 83 vagas no Regional, apenas duas estavam disponíveis, sendo 67 leitos eram ocupados por pacientes confirmados do novo coronavírus.

Para o infectologista, a cidade está com um crescimento muito acelerado de casos e, por conta do aumento das internações, pode ter problemas até que as medidas implantadas pela prefeitura façam efeito, já que o impacto das restrições só devem começar a serem sentidos a partir da segunda semana que elas estiverem em vigor.

"Estamos na fase exponencial de casos, e depende da dinâmica do que o município vai fazer para sabermos como será esse crescimento daqui um tempo, mas, pelos dados que temos hoje, ainda vai demorar para a Capital chegar no pico. A cidade ainda tem muito a crescer [no número de casos], só agora começou", diz Croda.

O infectologista ainda ressalta: "Estamos em ritmo acelerado de crescimento. Não há nenhum sinal de estabilização de casos e de ocupação de leitos", declarou.

A afirmação foi endossada pelo secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, que avalia que o pico de casos na Capital deve acontecer entre fim de julho e início de agosto.

"Ainda vai chegar [o pico], ainda vamos de duas a cinco semanas nesse ritmo. É muito grande o porcentual dos positivos hoje em Campo Grande, quase chegando a 20%, quando a média é 5%". Conforme o secretário, hoje a Capital é a cidade que "mais preocupa" a Secretaria de Estado de Saúde (SES).

Hoje, Campo Grande tem 6.216 confirmações. Resende avalia que esses números só baixarão se houver uma varredura de casos e "rastreamento rigoroso" de contaminados.

"Campo Grande só vai conseguir quebrar a cadeia de transmissão se tivermos monitoramento muito fino de todos os casos positivos. Isso deve ser feito na atenção primária, todas as unidades de saúde precisam fazer varredura dos casos para rastreamento rigoroso dos seus contatos", declarou Resende.

O secretário avalia que a falta de leitos pode acontecer, mas afirmou que espera que isso não aconteça e pediu compaixão aos sul-mato-grossenses.

"Não vai ser suficiente [a quantidade de leitos]. Temos de levar em consideração o que um especialista na área diz, mas vamos lutar para isso não acontecer. Acredito que a população vai ficar em casa, que a consciência civil vai aflorar nas pessoas e que elas terão compaixão ao próximo".